quarta-feira, 7 de maio de 2008

Retrato (digital) de uma utopia

É gozado como as coisas são. Em um determinado momento me pego no mais profundo ócio ocupacional-existencialista e em um outro desato a escrever, ou melhor, digitar. Sim, porque escritor atualmente só faz uso da caneta para autografar suas obras. Sou mais um na imensa leva tecnológica que não abre mão de um computador para resolver seus problemas cotidianos. Ou criá-los... Em um mundo onde tudo fica mais acessível à longa distância, não sendo mais tão necessária a presença corpórea, bastando alguns clicks e algumas “torturas” no teclado para iniciar ou terminar o que tem para ser feito...

Um mundo onde escritores perdem o apreço pelo ato que faz jus a sua ocupação e também um mundo que faz a humanidade perder o verdadeiro senso de o que é realmente importante nessa brevidade temporal a que, carinhosamente, batizamos de vida. Vida essa que tanto estimamos, mas inconscientemente (ou conscientemente), contribuímos para a sua deturpação.

Somos bombardeados constantemente por inúmeras informações, dos mais diversos tipos de assunto em uma proporção assombrosa. Isso se deve a famigerada tecnologia. Tecnologia que modifica geneticamente alimentos, que se preocupa com as fontes de energia que abastecem o planeta e suas já comprovadas conseqüências, que mescla velocidade com miniaturização, que revoluciona com a biotecnologia e com a nanotecnologia. Enfim, que torna o viver humano, digamos, mais cômodo.

Tecnologia... Tecnologia... Tecnologia...

Basta!

Gostaria de escrever essa humilde exposição de minhas idéias com uma caneta ou algo do gênero. Mas não posso. Sou, assim como milhões, um escravo da informática... Já absorvi conceitos como praticidade, rapidez, comodidade por intermédio das “maravilhas” do computador. Sou mais um que vê a vida se esvaindo a cada bater de teclas, em uma ruidosa melodia... A melodia do Enter. A melodia do Delete.

Sempre acreditei em saborosas verdades, em apetitosos preceitos. Sempre fui muito ingênuo para entender a complexidade que é viver cercado, não só de números e combinações, mas também de sentimentos. Sempre acredito em demasiado no que os outros dizem, confio demais... Minha mãe gosta de cutucar nesse meu calcanhar de Aquiles. E ela tem razão. Sempre tem. Tudo porque vivo em uma utopia. Uma doce utopia...

Viver sem se preocupar com hora, com e-mails, com scraps, com quem está on-line no Messenger, se o celular vai tocar ou não, com que os outros vão dizer... Vivi dias assim quando estava com você. Minha doce utopia... Onde tudo o que realmente importava era simplesmente dividir o mesmo ar que você, ouvir a musicalidade existente na sua voz, rir com você, mandar para o espaço a preocupação de medir as palavras, compartilhar experiências juntos, fitá-la até vê-la desviar o olhar... Ah! Um dos anseios humanos é poder voltar no tempo. Corrigir erros do passado, mudar o rumo dos acontecimentos de modo que, no final, o proveito próprio estará assegurado. Eu também gostaria de voltar no tempo. Não para mudar nada e sim para vivenciar tudo aquilo de novo. E de novo. E de novo...

Quem sou eu para dizer o que é melhor para uma pessoa ou para outra, se nem mesmo sei o que é melhor para mim? Apenas sei que você era o melhor para mim. Com você a alienação desse mundo tecnológico, simplesmente posta de lado, dava lugar a um outro tipo de alienação. Você. Ah! Isso sim é que era ser, paradoxalmente falando, alienado conscientemente.

Obrigado, por tudo. Por tudo mesmo. Por me fazer descobrir esse viés literário oculto em minhas veias. Por me proporcionar momentos tão agradáveis e, em contra partida, momentos tão dolorosos... Obrigado! Por me tirar, mesmo que só por alguns momentos, desse afogamento mundano. Por me fazer ver o que é realmente importante nesse sopro temporal...

Não era para ser necessário um desfecho... Por que tudo tem de ter um final? Por que a vida tem de raios terminar?! Não! Há algo mais do que clicks, ligações, mensagens, e-mails, desfigurações de personalidade virtual, mentiras eletrônicas, verdades ocultas...Há algo mais do que o ruidoso bater de teclas. E, isso, eu devo a você. Sempre serei eternamente grato. O verdadeiro sentido da vida. Soa bonito no papel... E na prática mais ainda! Ah... Em um papel A4, com fonte Garamond tamanho 12, recuo de linha 1, alinhamento a esquerda justificado....

7 comentários:

Felipe Cartaxo disse...

Minha 1ª obra. Espero que gostem.

N.Lym disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
N.Lym disse...

Ameiiiiiiiiiii Lipe!!!!!!

Se tu me desse esse texto para "corrigir" eu não mudaria nadinha!! Viajei na suas palavras cm se elas fossem uma expreiência minha!!=DDDD

dança dos erros disse...

Felpi como sempre me surpreende muito com seus textos que revelam uma capacidade liter�ria advinda de suas muitas leituras, as quais eu ja tive a oportunidade de compartilhar...an�lise comportamental que o diga hein, felipe ;)^^
Ele fala com desenvoltura de temas da atualidade, como a sociedade informacional,o que torna as pessoas ao mesmo tempo, independentes mas cada vez mais solit�rias tamb�m...um trecho que me chamou a aten�o foi uma prov�vel alusao a Spinosa:
"Por que a vida tem de raios terminar?!"

O Spinosa diz que o ser deseja permanecer em si!Esse desejo de n�o morrer, de se eternisar � uma das grandes ang�stias humanas, e nosso escritor felipe, como todo escritor que escrever pra debrachar uma ang�stia incotida, nao seria diferente!;D

adorei o post cartaxit'z
bju da herbie ;*

Unknown disse...

reee
mto bom garoto!
e viva a vda!
;)
abraçao

Liliana Carvalho Lopes disse...

É uma questão pertinente este teu texto... Costuma dizer-se que sem evolução não há vida, mas eu pergunto-me "onde vamos parar?"

Ainda hoje estava a ver um programa de pessoas que hoje são velhinhas, mas que se orgulham do corpo que tinham, etc. E depois uma psicóloga diz que se o programa fosse repetido daqui a uns anos seria: "onde fizeste as tuas plásticas?"

Uma outra questão pertinente digo eu...

beijo, gosto de te ler**

Márcio Persivo disse...

Esse meu ex cunhado é foda, cara. ;O Nem eu sabia do potencial dele. ;x Vééi, tu se garante demaiis. õ/ De vez em quando agora, dar uma visitada aqui. Abraço, man. \o/