quinta-feira, 8 de maio de 2008

Reflexão (in) dispensável

Olhos fixos para o nada, respiração pesada, corpo estático e uma mente em um labirinto perturbador. Eis a perfeita descrição de uns dos meus constantes momentos de reflexão. Outro bom exemplo seria o admirar singelo de um aconchegante pôr-do-sol à beira-mar, ou ainda, o caminhar diário que desempenho para retornar ao meu acolhedor lar. É estranho, mas a noção do real espaço, no decorrer das pensativas passadas, vai se deturpando. A distância é posta em segundo plano para dar lugar a algo mais relevante: o ato de refletir.

Memória, julgamento, especulação, sensação. Todos fundidos em um material final que nos permite reviver situações, julgar o que foi certo ou errado, imaginar diferentes desfechos, cutucar o nosso relicário emocional.

Refletir nos mostra o quanto nós somos frágeis, incoerentes, impulsivos, emotivos, fúteis. Mas, principalmente, o quão racionais somos. Há uma busca pela compreensão, pelo entendimento do que é verdadeiramente real. Do que realmente faz parte de nossa existência. Do que realmente importa.

Quantos não se arrependeram refletindo sobre o que passou? Sobre o que deixaram para trás? Ou pela maneira impensada que agiu? Atire a primeira pedra então. Carregamos essas cicatrizes conosco inconscientemente. Alguns olham as marcas e viram a face, esquivam-se e continuam a luta diária. Outros as fitam e ponderam. Pensam. Revivem. Sedentos por entendimento, por respostas, por verdade. Mais cicatrizes, mais pensamentos.

Engraçado... Sabe quando você acredita piamente que sua vida se edifica em determinados valores ou que não conseguiria viver sem aquela pessoa ao seu lado e, de repente, um furacão passa e nos faz ver que não é exatamente como pensávamos? Basta um novo dia de trabalho do astro rei para toda uma vida mudar. Basta uma conversa. Basta uma mentira.

É bem verdade que ninguém é substituível. Aquele que for contrário à informação citada, por favor, resigne-se na condição de mera peça consumidora alienada. Não encontramos ninguém igual a ninguém. Não podemos apenas substituí-los. Sempre terão sua importância em nossa existência. Mais cicatrizes... Mas buscamos o novo, o inexplorado, o interessante, o convidativo. Continuamos a viver. Nunca estamos satisfeitos. A roda da fortuna continua a girar. Queremos viver! Queremos mais cicatrizes! E queremos alguém que pergunte sobre todas elas.

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